É um dos temas do momento na Internet, preocupando especialmente quem tem filhos: alguns idiotas estão a misturar videos com mensagens potencialmente perigosas em conteúdo infantil e o YouTube e outros sites não estão a conseguir dar resposta.
Há relatos de mesmo no YouTube kids, supostamente seguro para crianças, se poder esbarrar com videos que a dado momento incentivam que vás buscar facas e faças coisas com elas.. porque é divertido. É apenas um exemplo, há muitos. Demasiados.
Pais e mães angustiados debateram intensamente, durante os últimos dias, vídeos infantis que teriam sido “invadidos” pela temida personagem Momo que, supostamente, ensinariam as crianças a usar objectos cortantes em casa para praticarem actos suicidas.
Grupos de pais e de escolas no WhatsApp foram inundados por vídeos de conteúdo infantil (como os que ensinam a fazer slime) em versões editadas, com interrupções de alguns segundos, em que a personagem Momo, com dobragens em inglês e em espanhol e imagens gráficas, estimula as crianças a cortarem os próprios pulsos.
Embora os vídeos circulem amplamente no WhatsApp, até ao início desta semana não havia nenhuma evidência concreta de que tenha circulado na plataforma YouTube Kids, como diziam os rumores divulgados na aplicação de troca de mensagens para telemóvel. Nem o Ministério Público, nem organizações não governamentais de segurança na web, nem o próprio YouTube encontraram qualquer indício disso, como apurou a BBC Brasil.
Há inclusive notícias que avançam que um menino de 4 anos cortou os pulsos com uma faca e revelou comportamentos violentos, tentando enforcar o pai, depois de alegadamente ter visto vídeos com a Momo. O caso terá acontecido no Paraná, mas não há confirmação da associação entre a atitude da criança e a personagem.
Os pais podem ter motivos para se preocuparem perante um fenómeno que se disseminou pela Internet, com mitos e verdades pelo meio. E há, de facto, riscos reais de as crianças serem expostas a conteúdos amedrontadores, indutores do suicídio e impróprios para a sua idade.
No entanto, os especialistas sugerem aos pais que parem de compartilhar vídeos com a Momo, mesmo que a intenção por trás disso seja a de alertar amigos. Também recomendam que aproveitem a oportunidade para ensinarem aos filhos como usar a Internet de forma segura.
O assunto já chegou ao Ministério Público do Brasil, com o Núcleo de Combate a Crimes Cibernéticos (Nucciber) a instaurar uma investigação sobre o caso, notificando YouTube e WhatsApp para que removam eventuais vídeos com a Momo das plataformas ou que restrinjam a sua partilha.
Porque está toda a gente a falar da Momo agora?
O caso chegou aos trending topics do Twitter no Brasil e ganhou repercussão depois do relato de uma mãe a um site de notícias que gerou a suspeita de que houvesse “invasões” da Momo em vídeos da plataforma YouTube Kids, cujo público alvo são crianças até aos 13 anos e que tem, por isso, em tese, restrições mais rígidas do que as do YouTube tradicional.
A BBC Brasil conversou com o Ministério Público da Bahia, com o YouTube e com organizações de monitorização da Internet, a Safernet e a DimiCuida, e nenhuma destas entidades encontrou sinais da Momo no YouTube Kids.
“Ao contrário dos relatos apresentados, não recebemos nenhuma evidência recente de vídeos mostrando ou promovendo o desafio Momo no YouTube Kids. Conteúdo desse tipo violaria as nossas políticas e seria removido imediatamente”, afirmou o YouTube numa nota.
Pode ter havido “algum vídeo que já tenha sido tirado do ar após denúncias”, aponta a psicóloga Fabiana Vasconcellos, ligada à DimiCuida, em declarações à BBC Brasil.
Por enquanto, o Nucciber afiança que não identificou nenhum vídeo da Momo em português.
O que dizer aos meus filhos sobre a Momo?
Os especialistas recomendam que os pais não mostrem vídeos com a Momo às crianças, embora possam aproveitar a oportunidade para discutir o tema – principalmente se elas já viram imagens com a personagem.
“Pode-se falar francamente que a Internet tem coisas horríveis“, destaca na BBC Brasil o psicólogo Rodrigo Nejm que é director de Educação da Safernet.
“Os pais podem contar que a Momo não é um fantasma ou monstro, e sim uma escultura, algo concreto, e que todo o perfil na Internet tem por trás uma pessoa real, que pode tentar assustar as crianças ou ter alguma má intenção“, sugere Nejm, frisando que devem aconselhar os filhos a “jamais” conversarem “com quem não conheçam, em jogos online ou redes sociais” e a não darem o número de telefone a estranhos.
Como se proteger?
Fabiana Vasconcellos recomenda aos pais para usarem aplicações de monitorização do acesso à Internet das crianças ou a usarem o YouTube em versões como a Go, que permite descarregar offline apenas vídeos que tenham sido pré-aprovados para as crianças menores.
Também podem restringir nas configurações do YouTube o acesso das crianças a determinados canais, impedindo que elas recebam notificações de vídeos que talvez não sejam apropriados.
Outra recomendação passa por “limitar o tempo” que as crianças passam na Internet. “A criança precisa de equilíbrio por se tratar de uma actividade passiva, que ela pode não conseguir processar se for em grandes quantidades ou não apropriada à sua faixa etária”, destaca Fabiana Vasconcellos na BBC Brasil.
“É bom lembrar que a Internet é a maior praça pública do planeta, e há riscos para crianças que circulem sozinhas nessa praça sem a maturidade para isso“, aponta ainda Nejm, sustentando que os pais devem mediar o uso que os filhos fazem dos seus dispositivos electrónicos, nomeadamente instalando apenas programas direccionados para as suas idades.
As próprias plataformas restringem o uso do WhatsApp para crianças até aos 13 anos e a criação de canais no YouTube para a partir dos 18 anos.
“É bom sempre deixar a criança confortável para procurar os pais e professores quando se deparar com algo que a deixe preocupada ou quando alguém [lhe] pedir alguma informação” na Internet, acrescenta ainda Nejm, apontando que é necessária uma avaliação permanente sobre a capacidade de discernimento das crianças e uma relação franca entre pais e filhos.
Os pais devem “lembrar as crianças de que estão sujeitas a armadilhas e que devem mostrar o mínimo possível de si mesmas online e ter controle sobre as próprias publicações”, afirma ainda Nejm, concluindo que “melhor do que criar pânico ou tirar a criança da Internet, é empoderá-la para navegar e para ter discernimento, e confortá-la sempre que necessário”.
Fonte: ZAP // BBC