DAFUQ? Não sabemos o que se passa aqui, mas lá que é no mínimo estranho… isso é!
A Yupido, empresa portuguesa, saltou recentemente para os jornais por ter um capital social de quase 29 mil milhões de euros, cerca de 15 vezes o capital social da SONAE ou o dobro da Galp, apesar de não ter vendido nada até hoje. Agora está a ser alvo de análise da Polícia Judiciária, que pondera investigar a situação. Especialistas falam em fraude ou branqueamento de capitais.
Chama-se “Yupido SA” e no seu site declara-se como uma empresa “não tradicional”, mas o que realmente a torna diferente é o capital social: 28 mil milhões de euros. Tem sede nas Torres de Lisboa mas, de acordo com o Observador, opera a partir de um apartamento em Telheiras.
A empresa era, ainda há pouco, desconhecida, mas tem vindo a ser alvo de atenção desde que um professor da Universidade do Minho descobriu que o valor do capital social da empresa atingia os 28,8 mil milhões de euros, ou seja, duas vezes o capital social da Galp ou 15 vezes o da Sonae. Porra.
O valor da empresa passou por um revisor oficial de contas (António Alves da Silva), que assume a responsabilidade da avaliação aparentemente absurda.
O capital social da Yupido, maior do que o de qualquer gigante da economia portuguesa, é equivalente a 15% de toda a riqueza gerada em Portugal em 2016.
A empresa foi constituída em julho de 2015, logo à partida com um capital social elevado: 243 milhões de euros. A empresa conta no conselho de administração com duas pessoas. Torcato Caridade da Silva, como presidente, e Cláudia Alves, vice-presidente.
Como principais áreas de atividade, a Yupido diz dedicar-se à “prestação de serviços de consultoria para os negócios e gestão”, mas não só: “consultoria tecnológica e desenvolvimento de serviços de informação”.
“Gestão e tratamento de informação”, “fornecimento de infraestruturas para domiciliação, serviços de processamento de dados e atividades relacionadas”, serviços de design, marketing, “domiciliação de páginas” ou “relações públicas e comunicação, publicidade” fazem também parte das áreas de atuação da Yupido SA, adianta a Renascença.
O Diário de Notícias, no entanto, conseguiu chegar à conversa com Francisco Mendes, porta voz da empresa, que adianta que a Yupido está ligada a “consultoria de gestão para dar apoio a empresas”.
Além disso, confessa, está a preparar para o próximo ano o lançamento de “uma série de serviços em diversas áreas”. Sublinhando que pretende deixar passar o “ruído” antes de dar mais explicações sobre o negócio, o porta-voz explica que a empresa está a seguir com “preocupação” todo o burburinho gerado à sua volta.
“As dúvidas persistentes colocam em causa a capacidade de o país ter empresas deste tipo. O que podem dizer investidores internacionais que querem entrar em Portugal se houver constantemente reações destas?”, questiona. Francisco Mendes.
A Yupido tem no conselho de administração duas pessoas: Torcato Caridade da Silva, como presidente, e Cláudia Alves, vice-presidente. Francisco Mendes é o porta voz da empresa
No fundo, a empresa é um “faz tudo” da era digital…. Mas é um “faz tudo” que não faz nada. Apesar da área de atuação diversificada, a Yupido registou, em 2015 e 2016, um volume de vendas igual a zero, tendo, no ano passado, registado perdas que chegaram aos 21 570 euros.
Sabe-se ainda que é em 2016 que a empresa, que então registava um capital próprio de 243 milhões de euros, terá realizado um aumento capital em espécie, tendo justificado o valor de 28 mil milhões de euros como uma avaliação total dos “ativos intangíveis” – ou seja, licenças de exploração, patentes ou marcas, por exemplo – geridos pela empresa.
Apesar dos ativos intangíveis poderem representar ativos em potencial que a empresa ainda não está a explorar – e não sendo público que ativos intangíveis são estes – a dimensão relativa do capital social desta empresa não deixa de causar curiosidade.
Francisco que adianta que “o capital tem por base uma operação global, e empresas com operações globais precisam de uma estrutura diferente”, garante que o dinheiro tem “origem legal“. Caso contrário, refere, a empresa já teria sido notificada pelos “órgãos competentes”.
“Não só não é normal como não faz sentido”
Para o advogado Luís Miguel Henrique, especialista em direito fiscal, direito financeiro, fusões e aquisições, o caso da Yupido “não é normal. E, olhando meramente para os dados contabilísticos que surgem na imprensa, não só não é normal como não faz sentido. Posto isto, tudo o resto é meramente especulativo“.
“Podem existir todas as razões legítimas, legais e até lógicas que nós não conhecemos”, sublinha. Mas aponta que os dados já divulgados podem configurar um caso de branqueamento de capitais em potência.
“Por exemplo, se me cair uma transferência de 500 milhões na conta, isso vai acender as luzes do Banco de Portugal. Se eu tiver uma escritura pública a indicar que vendi uma quota de capital social certificado, isso serve de esclarecimento”.
Por outro lado, o especialista indica que uma avaliação inflacionada também pode proporcionar uma situação de fraude. “Teremos cá a Web Summit em breve, com empresas a serem potenciais alvos de abordagens de investidores. Nesta situação, vamos poder vender 1% por milhares de euros, mostrando apenas os dados contabilísticos”.
De acordo com o Expresso, no entanto, essas mesmas hipóteses estarão a ser avaliadas pela Polícia Judiciária, que se encontra, de momento, “a analisar a situação para perceber se há indícios suficientes ou suspeitas que possam sustentar uma investigação”.
Fonte: ZAP