Pode parecer uma coisa de menor importância, mas o facto de alguém como o Manuel Luís Goucha ter a coragem de contestar as aparições de Fátima exactamente quando o Papa cá vem dar-lhes a sua benção, é relevante.
Afinal, entre os espectadores da TVI, e em particular dos programas da manhã, estão largos milhares de pessoas cegamente devotas. Ele foi, diretamente, contra as crenças do seu público.
Mais ainda, ele foi um dos elementos destacados pela TVI para documentar a chegada do Papa ao santuário de Fátima. O seu texto sobre o “milagre” de Fátima não podia ser mais cru e duro:
Não estarão à espera que acredite nas aparições de Fátima. Sei da História, isso sim, que, há cem anos, o Mundo estava em guerra e o comunismo era uma ameaça real na Europa, que, em Portugal, a Igreja havia sido espoliada pela República instaurada sete anos antes, logo a começar pela lei de Afonso Costa, da separação do Estado da Igreja, que os padres do alto dos seus púlpitos ameaçavam com as chamas do inferno e incutiam o temor a um Deus castigador… por isso estariam criadas a condições para um avassalador fenómeno de religiosidade popular a partir das visões de três jovens pastores analfabetos, como aliás seria a maioria da população. A ignorância e o medo sempre criaram deuses”
“Cinquenta anos depois o Mundo tem novamente os olhos em Fátima. Mas o Mundo não é mais o mesmo! A Ciência abre caminhos contra velhos preceitos, fazendo-nos entender coisas que durante gerações foram remetidas para o Divino e muitos de nós, muitos mesmo, não têm medo de fazer perguntas”
Ainda assim o apresentador garante ter realizado o trabalho de documentar a visita do Papa com o maior respeito possível, enaltecendo as virtudes da paz, da esperança, da alegria e do respeito pelos outros.