SEGREDOS DA MAÇONARIA vão estar na Linha da Frente

Os Maçons estão envoltos em mistério e nem sempre a sociedade tem a melhor opinião sobre eles. Fazem rituais com séculos, tratam-se por irmãos, usam aventais, reúnem-se em lojas e fazem juramentos eternos.

A Maçonaria abriu as portes ao programa Linha da Frente, levantando o véu de uma das mais secretas e antigas irmandades do mundo.

Estima-se que em Portugal cerca de sete mil pessoas sejam membros. Os números são incertos porque, de norte a sul do país, têm aparecido cada vez mais grupos. Mas que interesses defendem? Para que é que existem? São apenas uma teia de interesses que favorece a corrupção? Eles querem mudar essa imagem.

 

Absoluto silêncio

O homem tem os olhos vendados. Uma das pernas das calças está arregaçada e um ombro está à mostra.

É encaminhado por outro homem de máscara branca no rosto, avental com um desenho vermelho – foi desenhado por um estilista português e define o Rito Português – e uma espécie de espada na mão.

Pediram-nos que mantivéssemos absoluto silêncio. Antes, vimos uma porta a abrir. Lá dentro, em cima de uma secretária, estava uma caveira, um pão cheio de bolor, uma forca e sobressaía a frase que conhecemos da Capela dos Ossos, em Évora: “Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”.

Estávamos perante um dos mais poderosos rituais maçónicos por que todos passam antes de serem aceites na irmandade: a iniciação, “que é uma das mais belas cerimónias que um homem pode passar. É um nascer para uma nova vida”. As palavras são de Pedro Rocha Santos, o maçon que convidou a RTP a participar numa “Sessão Branca”.

Nessa sessão, os maçons da Grande Loja Soberana de Portugal convidaram “profanos” – pessoas que não pertencem à maçonaria – para conhecerem o templo.
20 obediências

Em Portugal existem duas dezenas de obediências maçónicas e há cada vez mais maçons.

As duas maiores lojas continuam a ser o Grande Oriente Lusitano (GOL) e a Grande Loja Legal de Portugal (GLLP), mas nascem cada vez mais grupos resultantes de cisões.

Em algumas destas novas obediências, já não se entra só por convite: há agora a possibilidade de candidaturas via internet.

Foi o caso de Miguel Arantes, um monárquico que encontrou a Grande Loja Soberana de Portugal (GLSP) na internet e quis entrar para a maçonaria. Recorda-se com emoção desse dia: “O dia da iniciação é o mais emblemático ritual da vida de um maçon. A cerimónia passou como um sonho. Temos os olhos vendados (…) A sensação de estar vendado mais de uma hora é qualquer coisa muito especial. No momento em que despertamos para a luz e vemos todos os irmãos…sai um peso gigantesco. É o nascer para uma nova vida”.

O avental de Miguel Arantes é todo branco e tem a aba levantada para cima. Em linguagem maçónica significa que é aprendiz. Depois deste grau existe o de Companheiro e finalmente o de Mestre. A distinção dos graus está visível nos aventais e no posicionamento em loja dos maçons.

“Laços”

A Maçonaria é uma ordem iniciática que assenta nos princípios da Revolução Francesa: liberdade, igualdade, fraternidade.

Fundada em Inglaterra no século XVIII, chega a Portugal pouco depois. Foi proibida durante o Estado Novo e, para Pedro Rocha Santos, essa pode ser a razão do secretismo criado à volta da maçonaria.

“Acho que há uma mística que envolve a maçonaria que não faz qualquer razão de existir. E talvez a maçonaria em Portugal tenha pecado por se ter fechado e ter criado esse misticismo à volta dela”, sustenta.

Para este advogado, a maçonaria acredita no amor fraterno, no auxílio e na verdade como forma de tornar os homens melhores. Fala do histórico socialista António Arnaut: “Dou-lhe um exemplo concreto: o sistema nacional de saúde foi criado numa loja. Foi uma coisa boa. Agora na maçonaria criamos contactos, que são os nossos irmãos. Como acontece em qualquer associação de bairro ou clube recreativo. É evidente que a maçonaria cria laços”.

“Mostrar o que realmente fazemos”

Pedro Rocha Santos é Venerável Mestre. Significa que é o líder de uma loja maçónica e acredita que se a opinião pública não tem uma opinião positiva em relação à maçonaria.

A culpa, diz, é dos próprios maçons, porque “escondem-se muito e a sociedade não está preparada para aceitar a maçonaria”: “Por isso nós temos que nos abrir e mostrar à sociedade o que realmente fazemos”.

“Sempre que há um ataque público à maçonaria, que aparece um caso de corrupção, dizem logo que somos todos corruptos. E ninguém vem dizer o contrário. Por isso cresce na sociedade a ideia de que somos todos conspiradores e que é só lobbies”, vinca, por sua vez, Orlando Gomes, um guarda prisional que é Venerável Mestre.

Este terá sido um dos grandes motivos que terá levado João Pestana Dias a fundar esta obediência. Este antigo aluno do Colégio Militar acredita que está na hora de mostrar o que é a maçonaria.

Dois segredos

A GLSP é uma obediência regular – acredita num ser supremo e não é permitida a entrada a mulheres. Esta organização nasceu há um ano e meio e conta com 150 elementos. Para entrar paga-se 700 euros e a mensalidade é de 25 euros.

O templo encontra-se na Avenida João Crisóstomo, em Lisboa, e o logótipo à entrada indicia que, por detrás das grades, está um templo maçónico.

Não há nenhuma autoridade para a maçonaria, o que não permite controlar o número de obediências e maçons.

Nós nascemos da mesma forma que nasceu a mais conceituada loja do mundo, a United Grand Lodge of England, ou seja, quando três lojas se juntam – neste caso, foram quatro – para que seja criada uma grande loja (obediência). As obediências são soberanas. Deixe-me só dizer-lhe que D. Afonso Henriques, o nosso primeiro Rei, ninguém o reconheceu. Ele fez-se rei a ele próprio”, recorda o Grão-Mestre.

Para o responsável, só existem dois segredos maçónicos: “O primeiro é não revelar quem é maçon e o segundo é não revelar o que se passa numa sessão”.

Esta reportagem pode ser vista na íntegra logo à noite, após o Telejornal, na RTP.

Fonte: RTP


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ELEgante

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