Como Viajar GASTANDO POUCO DINHEIRO

Não há como fugir: as melhores coisas da vida até podem ser grátis, mas para as conseguires ter tens de incorrer em algumas despesas.

No entanto, se tiveres atenção aos custos e gerires bem o teu budget, podes ter as experiências que alguns julgam só estar ao alcance dos milionários, gastando MUITO POUCO DINHEIRO. Este é o mote dos nossos amigos Joana e do Tiago, que conseguem ter “o mundo na mão“, por valores que parecem impossíveis.

Claro que há coisas que são difíceis visitar sem pagar mas, em comparação com o total de experiências que uma viagem te proporciona, essas visitas pagas são irrelevantes.

Todas as viagens são divididas em, pelo menos, três grupos de gastos: transporte, alojamento e alimentação. Dependendo para onde viajas, pode juntar-se outro gasto considerável – os vistos. Este último, pode ser o pior: não há volta a dar. Quanto aos outros grupos, podem reduzir- a zero (ou quase).

Transporte

O nosso transporte de eleição é e será sempre à boleia (carona, em português do Brasil). Na apresentação desta nossa viagem, falámos já do porquê desta nossa escolha. Mas uma vez mais temos de ser flexíveis e jogar com o que temos. Para atravessar mar, nem sempre é fácil conseguir boleia; mas não é impossível. Requer mais tempo, mais paciência e mais disponibilidade – mas trará também mais frutos.

Temos também de sublinhar que existem países onde é ilegal andar à boleia e ainda outros onde as regras para o fazer são muito específicas. Varia imenso de país para país e de cultura para cultura: há lugares onde esticar o dedo é uma grande ofensa, outros onde não percebem o que fazemos na borda da estrada. Assim sendo, uma vez mais, convém pesquisar. Uma boa ajuda a acrescentar é o site do Hitchwiki. Mas há outras formas de nos deslocarmos de lugar para lugar de forma grátis; por exemplo, andar a pé ou de bicicleta. E há imensa gente pelo mundo que se desloca desta forma.

– Relocations

Principalmente nos países anglo-saxónicos (Austrália, EUA, Nova Zelândia) vais encontrar muitas oportunidades para fazer relocation. Basicamente, isto e levar um carro, que foi alugado do ponto A para o ponto B, de volta do ponto B para o ponto A. Há muitos sites que servem de plataforma a estas oportunidades. As possibilidades são imensas, alguns pagam tudo (combustível, ferries) e ainda dão dinheiro, outras disponibilizam só o carro por um preço baixo por dia. Por vezes são oportunidades tão boas que até parecem impossíveis. Tal como os carros alugados, recomendo que tenham atenção ao tipo de seguro que o carro tem: em alguma situações em caso de acidente pode sair muiiito caro. – Nós, infelizmente, partimos o pára-choques e pagámos o equivalente a 350 euros. Mas quando tudo corre bem, é uma oportunidade muito interessante.

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A pedir a primeira boleia, no Irão.

Alojamento

– Amigos e/ou família

Recorremos, na maioria das vezes e, em primeiro lugar, a amigos. Temos a sorte de ao longo dos últimos anos, entre Erasmus e intercâmbios, projetos da faculdade e projetos pessoais, termos cruzado o nosso caminho com pessoas espalhadas pelo mundo. E, feliz ou infelizmente, com o fenómeno migratório existente em Portugal nos dias que correm, a lista de amigos por aí fora é extensa. Mas, claro, na Europa é fácil, na China também, o mesmo na Austrália, Estados Unidos e Canadá, contanto também claro com toda a família pelo mundo espalhada. Mas depois passamos ao plano B: amigos de amigos.

– Amigos de amigos e conhecidos

Não há vergonhas, porque nós hospedamos sempre todos aqueles que podemos; e não somos exigentes! Um bocadinho de chão abrigado e seguro está perfeito!

O facebook e outras redes sociais são uma ótima ferramenta nestas duas primeiras opções.

– Couchsurfing

Por fim, recorremos ao couchsurfing: o couchsurfing é uma plataforma onde estamos registados (e onde qualquer um se pode registar). A ideia é conhecer diferentes pessoas e diferentes culturas. No nosso país hospedamos ou recebemos para um jantar ou passeio quem podemos, quando viajamos somos hospedamos por quem pode, passeamos ou jantamos nos mesmos moldes. E é esta a forma mais intensa e única de estar em contacto com os locais. Mas não é exclusiva! O coushsurfing não é para todos os gostos, mas nós damo-nos muito bem.

– Tenda

Temos também uma tenda, na mochila. Sempre que a utilizámos foi por estarmos à boleia e não conseguirmos chegar ao nosso destino. Porque de todas as outras vezes que o tentámos fazer, quando pedimos autorização aos proprietários dos terrenos ou às pessoas que víamos por perto, estas convidaram-nos sempre para suas casas. E esta é também uma perspetiva única e muito especial. Para montar a tenda, as regras variam de país para país: na França ou países nórdicos podes montar em quase todos os lugares não protegidos e longe de casas, respeitando, a natureza, pessoas e animais. Na Escócia, podes montar a tenda em campos privados desde que não estejam cultivados. Basicamente, podes invadir qualquer propriedade privada que não esteja a ser usada. Na Polónia e Estónia o wild camping também é bastante tolerado, desde que se seja discreto e longe de casas e parques nacionais.

Cada país tem as suas regras e o melhor mesmo é pesquisar sempre. Em Portugal é ilegal, e em muitos outros países também. Na nossa opinião, se fores um campista muito consciente, podes fazê-lo em quase todos os países, não deixando NADA para trás além de pegadas, montando a tenda depois do anoitecer e levantando antes do amanhecer. O melhor para acampar é perguntar às pessoas se te cedem um pedaço do seu quintal, geralmente mais seguro e menos problemático. Com sorte, ainda te cedem um teto e um pratinho de sopa.

– Workaway

Esta é uma forma de trocar algum tempo de trabalho diário, por estadia e, por vezes, alimentação. Existem vários websites (e.g. Helpx) que funcionam como plataforma para facilitar o contacto entre quem hospeda e quem oferece o trabalho.

– Housesitting

Esta é uma boa opção para estadias mais longas num lugar. Por norma, os donos das casas necessitam que tomem conta do jardim, das flores ou dos animais, enquanto se encontram de férias. Há varias opções e também vários websites (e.g Housesitting Company) que facilitam o contacto entre os proprietários e aqueles que se propõe a tomar conta da casa. Nunca fizemos, mas já ouvimos relatos de muitas experiências: umas excelentes, outras nem tanto.

– Parcerias/trabalho

Muitos hosteis por esse mundo ficariam muito contentes em trocar hospedagem por algum serviço que possas oferecer. Neste campo, vale tudo: manda e-mails, oferece o que puderes e vais ficar surpreendido com a quantidade de respostas positivas. Podes propor-te para diversas coisas, tais como trabalhar na recepção, fazer limpeza, fazer as camas, tratar do jardim, traduzir documentos, fazer uma página web e, se tiveres um blogue ou experiência em viagens, podes também fazer reviews e publicidade, trabalhar e publicar fotos/videos nas redes sociais, ajudar como conselheiro de negócio; entre muitas outras possibilidades. Como te podes dar conta, as oportunidades são muitas! Sê criativo, persistente e profissional e vais ter muito boas experiências.

– Outras aventuras

Além da tenda, já dormimos em hospitais, restaurantes, igrejas ou salas de reza, entre muitos outros lugares – mas estes não faziam parte do planeamento, fazem parte da magia do caminho. Existem também hosteis muito baratos, principalmente no sudoeste asiático, a menos de um euro. Nunca utilizámos, mas acreditamos que sejam uma boa solução para tomar um banho e dar descanso à tenda. Em último caso, procura algo que esteja aberto 24horas: McDonald’s, uma estação de serviço, hospital ou aeroporto. Uma estação de comboio ou autocarros também pode funcionar mas, dependendo do país, se adormeceres ficarás mais exposto aos amigos do alheio.

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Quando acampámos pela primeira vez. Na China.

Alimentação

A alimentação é um dos gastos mais difíceis de reduzir a zero, mas não impossível. De qualquer forma, não é assim tão duro poupar dinheiro no que se come.

Pela nossa experiência, tentamos cozinhar sempre que possível. Compramos os ingredientes nos mercados locais, quando estes existem ou nos supermercados em cidades grandes. E, por norma, cozinhamos na casa de quem nos hospeda. Quando não temos hipótese de cozinhar, compramos fruta, legumes e pão para ir comendo. Quando cozinhamos, tentamos fazer a mais de forma a levar connosco nas visitas pelas cidades ou no trajeto à boleia entre cidades. Uma boa forma de também poupar na comida é procurar supermercados com descontos nos produtos a sair de validade. Normalmente, são os supermercados grandes que fazem estes descontos. Neste caso, tentamos comprar as frutas e legumes que estejam em promoção.

Muitas vezes, as pessoas que nos hospedam, ou dão boleia, também nos oferecem comida (que se vegetariana, aceitamos e agradecemos).

Para comer sem pagar, temos dicas para todos os gostos, das mais radicais às mais conservadores:

1. Tablediving – Consiste em ir a um lugar onde há muita gente a comer e aproveitar os seus restos. Há restos para todos os gostos, desde o falafel já metade comido, até ao pacote de batatas que vinha com todos os menus e por isso não foi tocado, ou as bolachas que não fazem o estilo do cliente e por isso ficam no prato. Requer cuidado e crítica.

2. Dumpster diving – Não é nada mais que resgatar comida (em bom estado) que é desperdiçada diariamente por mercados, supermercados, minimercados e muitos outros estabelecimentos comerciais. Na maior parte das vezes requer que se procures nos contentores de comida, mas muitas outras vezes pode encontrar-se caixas de cartão à porta dos estabelecimentos comerciais já fechados. Este último exemplo é o caso de todos os dias, na China Town, em Honolulu, no Hawaii (EUA). O mesmo no fecho do mercado biológico de Wellington, na Nova Zelândia, todos os domingos por volta das 14h. São quilos e quilos de comida ótima e selecionada, que por não estar perfeita, vai para o lixo (das duas vezes que lá fomos, foram vários os produtores que colocaram à disposição várias caixas para que as pessoas escolhessem antes de colocar nos contentores, incluindo pêssegos, laranjas, maçãs, abacates, pimentos, couves, salsa, entre muitos outros).

3. Harvesting – Isto não é nada mais que colher fruta de arvores públicas. Por exemplo, no Algarve, existem algumas laranjeiras na via pública ou, na Nova Zelândia, algumas maceiras em parques e estradas. Outra opção é aproveitar a fruta que esta caída da árvore e que não será colhida. Por esse mundo fora há imensas árvores de fruto e seguramente vais encontrar muita fruta que irá apodrecer. Mantém sempre a descrição e se alguém não se mostrar contente com o que estás a fazer, vai-te embora sem discutir.

4. Meios de transporte – Muitas vezes, nos aviões, comboios ou autocarros, os passageiros recebem snacks e… desperdiçam tudo. Pedindo ,ou indo com calma quando te levantas, consegues encontrar comida que provavelmente, se não a resgatares, vai ser deitada fora. Atenta que o desperdício alimentar existe em grande escala.

5. Restaurantes grátis – Neste mundo capitalista há coisas que as pessoas do século XXI não estão preparadas para ouvir falar. Almoços grátis é uma delas: mas eles existem, e muitos! Há cantinas em templos Budistas, Sikh, Hindus (entre outros), que oferecem várias refeições grátis todos os dias. Na Singapura, e.g., é fácil de encontrar muitos e dá muito jeito porque é um país caro. Estas cantinas servem toda a gente, uma vez que acreditam que perante o ato de dar muito, irão também receber muito. Existem também muitas cantinas para pessoas mais necessitadas e outros tantos restaurantes que funcionam por doação voluntária de qualquer valor.

6.Eventos – Por vezes, nos centros de congressos e afins, existem grandes eventos com muita comidinha boa e outros brindes. Parece que não podemos entrar, mas podemos. Quem está à porta ou não está a controlar ou pede por um ingresso/uma pulseira, que muitas vezes estão disponíveis na hora depois de ser feito o registo uns metros mais à frente, numa secção própria. Um dia, em Kuala Lumpur, vimos destes eventos no KLCC e por curiosidade tentámos entrar. Passados 5 minutos, estávamos a apreciar grandes petiscos vegetarianos. Às vezes, é só tentar.

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Estes legumes e frutas foram resgatados no fecho de um mercado, na Macedónia. 

Vistos

Destes, não dá para fugir. O visto terá sempre de ser pago. Os conselhos que podemos dar têm por objetivo pagarem o menos possível:

– Faz tudo sozinho, lê outros blogues, recolhe a informação necessária e vai diretamente à embaixada. Leva contigo todos os documentos, fotografias, entre outros, que saibas que vais precisar. E no caminho para a embaixada não te deixes enrolar com as pessoas que te querem ajudar a troco de dinheiro.

– Tenta pedir o visto sem que te peçam carta de convite. Às vezes pode depender de embaixada para embaixada, podes tentar contactar varias embaixadas e ver se os requisitos mudam. Se não conseguires fugir da carta de convite, contacta um hostel que te possa fazer essa carta e procura a opção mais barata. Muitas vezes pessoas particulares podem também fazer essa carta mas o processo é tão chato para a pessoa que pode não compensar.

– Se te pedirem reservas de voos e hosteis, reserva tudo online em sites que te devolvam o dinheiro sem custos.

– Caso sejam necessários outros requisitos (como um seguro de saúde), normalmente as embaixadas não querem saber muito disso, portanto, se o teu foco não for estar protegido e sim unicamente obter o visto, um seguro de acidentes pessoais que custa 30 euros por ano funcionará.

– Leva sempre contigo fotos tipo passe: vais poupar dezenas de euros pelo mundo com este simples detalhe.

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O que mais dores de cabeça nos deu para obter: o visto para os EUA.

Para já, estes são os melhores conselhos que podemos dar para iniciar uma viagem verdadeiramente low cost!

Em viagem, como na vida, existem muitas coisas que não podemos antecipar mas, na maior parte dos casos, com calma, perseverança e muita criatividade, tudo se resolve: mesmo para quem não ganhou a lotaria, nem tem pais ricos.


Sobre o Autor

ELEgante

O homem urbano e cosmopolita, moderno e com bom gosto. Sabe o que quer, vive como gosta.