O que começou como um passeio pela Europa em bicileta, com o objetivo de alargar horizontes, está a levar o Manuel – um rapaz de Serpa – a territórios que são tudo menos turísticos.
Os que o acompanham através do seu blog – Vou num pé e volto noutro – costumam admirar as fotos e as paisagens, mas desta vez estão GENUINAMENTE preocupados.Afinal, Manuel está neste momento a atravessar o curdistão iraquiano de bicicleta. Esta noite ficou em Dohuk, uma aldeia a 65km de Mosul. As histórias que conta oscilam entre uma hospitalidade de coração aberto, e o medo que paira no ar. O DAESH está mesmo ali ao lado.
Os desentendimentos com a polícia, que o aborda para saber o que faz ali um ocidental sozinho de bicicleta, até ao dono de um restaurante que o convida para ficar lá a comer e dormir antes de prosseguir viagem.
Alargar horizontes é muito bonito mas a mim é que não me apanhavam ali. Muito respect pelo xô Manuel. Não sei como é que ele consegue ter força nas pernas para pedalar, com uns gigantescos tomates de aço a pesar-lhe o caminho todo.
Vê aqui alguns registos das últimas horas:
[IRAQUE] Esta foto foi tirada na fronteira do Iraque, foi um visto bastante complicado de tirar, para me darem 30 dias de permanência no país tive que comer até mais não, já não via comida a frente, tive que beber chá e ainda me queriam ajudar a trocar uma Câmara de ar da bicicleta porque tive um furo, só depois me deram o carimbo gratuito!!
Como podem ver tal não são estes “terroristas” que quase me explodem com tanto afetividade!!!
Lá fui eu novamente, fui abordado por uns polícias, como não nos entendemos com a língua levaram-me para a esquadra onde fui interrogado sobre o que fazia aqui nesta zona, a estas horas e com uma bicicleta na mão. Eu lá expliquei, eles lá perceberam e deixaram-me seguir caminho. Não sei onde vou dormir, já fui a 7 hotéis, 3 disseram que estavam completos, os outros foram preços entre os 40 dólares e os 90 dólares, um absurdo. Eu penso que tenham receio de me alugar um quarto, a proximidade com o território do auto proclamado Estado islâmico deve deixa-los de pé atrás para alugar um quarto a um estrangeiro tendo em conta que o EI condena os “infiéis” do Ocidente, e eles não sabem como as coisas vão estar amanha e tem gente infiltrado do EI por todo o lado que informa sobre o que se passa. Penso que seja isso, não sei.
Sinto um certo receio, Dohuk não é por estas alturas a cidade mais turística do mundo, muito menos no inverno, não percebo o porquê desta lotação hoteleira, daí eu pensar que eles tenho receio de me alugar um quarto. Provavelmente têm receio de represálias, dada a proximidade com o território dominado pelo EI penso que têm medo que se saiba que andam a dar abrigo a um estrangeiro, a um “infiel” aos olhos do EI. Se for esse o caso eu percebo, é normal, amanha eu vou embora, agora eles e a sua família ficam aqui o resto da vida, e hoje as forças iraquianas podem estar a controlar a situação, mas amanhã podem perder o controle, e não vão querer ser mortos por terem dado abrigo a um “infiel”. Enfim, não tenho sitio para dormir, não sei onde pernoitar, precisava de remendar as câmaras de ar, algo que esperava fazer hoje no hotel, e sem contar que ao chegar voltei a ter um furo, não sei qual a razão desta vez, mas sei que já não tenho câmaras de ar novas, tenho mesmo que arranjar uma maneira de remendar as que tenho e voltar a verificar o aro e o pneu.
Era o que ia fazer quando parei junto a um pequeno posto da Polícia, mas não consegui, eles vieram ter comigo, revistaram tudo e mais alguma coisa, dada a nossa dificuldade de compreensão pegaram em mim e nas minhas coisas e fomos para o quartel deles, chegados lá, fui revistado novamente e levado ao comandante deles, eram 3, digamos assim, todos com 3 estrelinhas nos ombros, não sei qual é o posto aqui mas pronto eram importantes, lá me interrogaram, começaram um pouco agressivos, talvez dado ao grande numero de Europeu que se alistou mas fileiras dos Estado Islâmico. Depois de uma meia hora de conversa, e de explicar novamente esta minha aventura, eles lá começaram a falar numa boa, ofereceram chá, e lá me libertaram depois. Os polícias deixaram-me junto ao posto deles, onde me apanharam, montei tudo na bicicleta, e segui caminho.
Para onde?? Não sei, fui em frente até encontrar um prédio que está a ser construído, tem aqui um contentar daqueles pré-fabricados, resolvo encostar a bicicleta ao contentor e sento-me no chão, no meu lado direito tenho uns arbustos na frente uma enorme escuridão, ao menos não tá muito vento, e a temperatura hoje não baixa mais que os 0º, acho que vou ficar por aqui, tá na hora de tentar arranjar as câmaras de ar e descansar um pouco.
Enfim, hoje o dia começou bem mas agora nem por isso, amanha é outro dia, falta só decidir qual o caminho. Nunca eu pensei dormir nas ruas do Iraque, muito menos a 65km do EI, não tenho medo, mas claro que tenho receio, não sou um inconsciente, embora as vezes pareça. Uma noite não são noites e tudo o que me acontece só me tornar melhor e mais forte!!! Que seja como tiver que ser.
E mudanças de planos!! Vou ficar mais uma noite em Dohuk. Mas desta vez durmo bem. Estes são os meu novos amigos, ia eu a sair do Dohuk e começam me a chamar, era o dono do restaurante Chinar, que tá logo atrás de mim na foto, os outros são os seus colaboradores. Convidou-me para dormir lá, comer,tomar banho e amanha sigo viagem.
Fonte: Facebook
