A emigração de portugueses para o Canadá não será coisa nova. No entanto, costumam fazê-lo em vida. Se a decisão da Câmara de Lisboa se concretizar, Portugal pode tornar-se o primeiro país a “exportar” esqueletos.
Um grupo de investigadores está a tentar impedir que a Câmara de Lisboa concretize a decisão de doar ossadas humanas a uma universidade do Canadá, acedendo ao pedido de um investigador português que lá trabalha.
A medida foi aprovada pela autarquia depois de Hugo Cardoso, um investigador português a trabalhar no Canadá, ter pedido o contributo da autarquia com ossadas humanas para investigação científica e “formação de alunos em anatomia óssea e humana”, segundo relata a Rádio Renascença.É de ressalvar que eles não vão começar a virar campas do avesso e a desalojar cadáveres aleatoriamente.
A decisão da Câmara de aceder ao pedido, doando ossadas que se encontram abandonadas em cemitérios de Lisboa, está a suscitar a contestação de um grupo de 24 especialistas, que não querem ver Portugal a tornar-se no “primeiro país a exportar esqueletos humanos”.
No Canadá, a necessidade de ossadas justifica-se pelo facto de a lei do país não permitir o uso de esqueletos para fins científicos, reporta a Renascença.
Ora, para este grupo de especialistas, que inclui antropologistas biológicos e forenses, “não é legítima a “doação” de material ósseo humano por parte de um município a uma entidade estrangeira”, segundo cita a rádio.
“Esqueletos humanos são restos de pessoas”, sublinha na Renascença a professora de Antropologia no Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra, Eugénia da Cunha, que é uma das subscritoras de uma carta enviada a vários ministérios, com o intuito de travar esta doação de ossadas.
“Não me parece correcto que sejamos pioneiros na exportação de restos humanos”, acrescenta Eugénia da Cunha, notando que há “lacunas” na lei que “permitem que isto possa acontecer” e apelando assim, à criação de “legislação mais direccionada para este tipo de problemática”.
A Renascença refere que a autarquia recebeu pareceres favoráveis da Comissão Nacional de Ética para as Ciências da Vida e do Instituto de Medicina Legal, embora com ressalvas éticas, nomeadamente, a vontade do falecido ou de quem tenha legitimidade sobre o destino dos seus restos mortais, bem como a salvaguarda do anonimato das ossadas.
Fonte: ZAP